“Olha, é um privilégio. Esse projeto (...), quem idealizou, quem organizou, só pode ter sido inspirado por Deus porque faz toda a diferença! Antes, a gente tinha que pegar o carro, muitas vezes sem nem ter como pagar o combustível, pra levar alguém pra ser atendido fora do território, enfrentar fila, dificuldade. Hoje, o atendimento veio até nós. Eu sou muito grata por cada serviço, por toda atenção que recebemos. Que venham outras edições. Esse projeto não pode parar”. Esse é o sentimento da cacique da Aldeia Buridina, Valdirene Leão Gomes Cruz, ao receber, hoje, 29, em seu território, o “Defensorias do Araguaia”. Após passar por aldeias do Mato Grosso e Tocantins, finalizou nesta sexta-feira, em Goiás, a 2ª edição do projeto atendendo as aldeias Bdè-Buré e Buridina.
A ação é fruto de uma força-tarefa interestadual promovida pelas Defensorias Públicas dos Estados do Tocantins (DPE-TO), Goiás (DPE-GO) e Mato Grosso (DPE-MT), com a parceria de uma ampla rede de instituições federais, estaduais e municipais. Juntos, atuaram buscando superar as barreiras geográficas e estruturais que dificultam aos Karajá do Alto Araguaia o acesso à justiça e à cidadania.
Com diversos serviços à disposição, os indígenas buscaram atendimento de cada espaço. Bebeto Kahukaxi foi um deles, ele foi o tradutor do atendimento da sua sogra, que só fala a língua mãe, em uma demanda previdenciária. “Hoje nós estamos sendo bem atendidos. Depois que vocês vieram, ano passado, a coisa começou a andar”, disse.
Já senhor Nicolau Cawinan Karajá buscou atendimento para averiguar a situação do seu registro civil e saiu com sua demanda resolvida. “O atendimento foi ótimo. Muito obrigado a todos.”
Além dos indígenas, moradores de Aruanã, próximos à aldeia, também aproveitaram a oportunidade para acessar os serviços, como uma mulher que buscou por orientação na área da Família. “Eu vim na esperança de fazer o reconhecimento de união estável, para poder levar minha filha recém nascida para conhecer o pai que está preso. Quero que ele veja como ela é linda”.
Trabalho interinstitucional
Com mais uma edição concluída, a coordenadora do Núcleo Especializado de Questões Étnicas e Combate ao Racismo (Nucora) da DPE-TO, defensora pública Letícia Amorim, que esteve à frente do projeto, disse que os resultados superaram as expectativas. “Um número de atendimentos bastante significativo, especialmente em ações como a realizada na Aldeia Fontoura, onde, em apenas três horas, foi possível alcançar uma marca proporcionalmente superior. Essa integração fortalece a atuação da Defensoria Pública, tornando o atendimento mais qualificado, célere e alinhado às reais necessidades da população assistida”.
A 2ª subdefensora pública-geral da DPE-MT, Maria Cecília Alves da Cunha, destaca a importância do atendimento humanizado levado para dentro das aldeias. “Somente quem vive esse projeto sabe o quanto é acolhedor, o quanto a comunidade nos acolhe. É diferente ser recebido com sorriso no rosto. Eles têm muita gratidão, porque a nossa missão é ir também onde o assistido está. Então é a Defensoria chegando no território, atendendo, sendo acolhida e acolhendo”.
Para o coordenador do Núcleo Especializado de Direitos Humanos (NUDH) da DPE-GO, defensor a público Tairo Batista Esperança, a ação teve grande efetividade. “A gente fica muito feliz de ver que o projeto ficou aqui e que foi um sucesso. A gente conseguiu integrar os serviços públicos, não só atendimentos jurídicos, e vários outros serviços, tudo gratuito para população poder usufruir e quebrar essas barreiras que os serviços têm junto aos povos originários.”
Os atendimentos nas Bdè-Buré e Buridina também contaram com a atuação do defensor público do Tocantins João Pedro Cerqueira da Silva Oliveira e da assessora do Nucora, Aline da Silva.
2ª Edição
O Defensorias do Araguaia começou na segunda-feira, 25, na Aldeia São Domingos, município de Luciara, no Mato Grosso; na quarta-feira, 27, os atendimentos foram realizados na Aldeia Fontoura, em Lagoa da Confusão, no Tocantins, se encerrando nesta sexta-feira nas aldeias Bdè-Buré e Buridina, em Goiás.
Além do acesso à justiça e à cidadania no território indígena, o projeto teve, entre outros objetivos, mapear demandas estruturais de saúde, educação, previdência, assistência social e documentação civil e desenvolver protocolos conjuntos de atuação nesses territórios.
O Projeto
O “Defensorias do Araguaia” representa uma ampla frente de serviços prestados gratuitamente a indígenas que, por estarem isolados geograficamente, têm ainda mais dificuldade para acesso à Justiça e a outros serviços essenciais para cidadania.
Confira aqui os parceiros.
Leia também:
- 1º dia de atendimentos: Aldeia São Domingos
- 2º dia de atendimentos: Aldeia Fontoura