edit Editar esse Conteúdo

Toda criança tem o direito de ser desejada e a ter suas necessidades básicas satisfeitas

Publicado em 27/10/2015 10:21
Autor(a): Autor não informado
Toda criança tem o direito de ser desejada e a ter suas necessidades básicas satisfeitas - Foto: Divulgação

Do ponto de vista psicanalítico, todas as pessoas necessitam de atenção e serem desejadas durante toda a sua existência, mas é importante enfatizar que os dois primeiros anos de vida são decisivos para a formação e estabelecimento de alguns fatores que corroboram para a saúde mental. Nesse período da vida, a criança necessita ser cuidada intensivamente pela mãe ou seu cuidador, para que possa estabelecer o que chamamos de “pontos de fixação” com o meio onde está inserida. Isto é importante para que a criança possa estabelecer sua relação de confiança com o ambiente.

Se todas as vezes que o bebê necessitar de cuidados, mediante choro ou qualquer agitação motora, a mãe estiver pronta a atender as necessidades dessa criança, certamente essa mãe é o que Winnicott chama de “mãe suficientemente boa”. Essa relação entre mãe e filho certamente determinará a formação da autoestima deste; compreende-se por autoestima, a capacidade para lidar com as adversidades do dia a dia, frustrações, rejeições, conflitos, e é, portanto, algo que o acompanhará   durante toda a vida.

Por outro lado, a ausência ou a negligência desses cuidados dispensados pela mãe ao filho, poderia causar desconforto, insatisfação e falta de confiança a este; e por sua vez poderia provocar a não formação de autoestima. Importante lembrar que a formação de autoestima não poderá se dar em outra fase da vida.

Compreende-se que para o bom desenvolvimento da criança é necessário um ambiente agradável e, daí, surge o conceito winnicottiano de good enough mother (mãe suficientemente boa). Não é uma mãe perfeita, porque essa não existe. Mas é a mãe que sabe a hora certa para favorecer a ilusão no bebê e, logo após, a desilusão.

Segundo Winnicott, a ilusão é criada quando a mãe se adapta às necessidades do bebê e este projeta o que ele mesmo criou daquilo de que ele necessita. Aliás, o bebê percebe a mãe como sendo sua parte: os dois são um só, o que dá sustento ao pensamento de dependência para com a mãe. “A mãe, no começo, através da adaptação quase completa, propicia ao bebê a oportunidade para a ilusão de que o seio dela faz parte dele, de que está, por assim dizer, sob o controle mágico do bebê”.

Depois desse período, a mãe deve passar a desiludir a criança, não atendendo tudo tão prontamente. Ou seja, a mãe, progressivamente, começa a fazer com que a criança tolere algumas frustrações. De confrontos em confrontos, o desenvolvimento do ego da criança será facilitado e ela passa a esperar por certas atitudes, que anteriormente, queria na hora. Desta forma, a formação egóica desenvolve-se saudavelmente.

Que possamos repensar sobre a importância e os porquês de se ter ou não um filho, de se desejar ou não um filho e das consequências acerca das relações familiares que envolvem todo o processo afetivo humano. 

 

Isabel Cristina Izzo é analista especializada em psicologia da Defensoria Pública (CRP 23/000966)

keyboard_arrow_up