Vivemos uma era em que tudo deveria ser mais fácil. Temos supermercados, hipermercados, internet livre, educação à distância, podemos nos locomover com mais facilidade. Enfim, tudo mais fácil dentro de uma perspectiva conformista. Só que não! Passamos por momentos difíceis, não deveríamos. Vivemos em um Estado organizado que na teoria não deveria nos deixar faltar nada. Não deveria faltar com a saúde, educação, lazer, segurança, habitação. Tudo deveria ser como no papel, um Estado paradisíaco. Mas o que vemos vai na contra mão disso.
Estamos numa época onde o caos se instalou em todos os segmentos, na saúde, o abandono educacional, falta de segurança e nem posso falar em lazer e habitação, porque nem é preciso.
Recentemente vivi intensamente o caos na saúde ao visitar um parente com câncer, em estágio terminal. Senti-me uma completa inútil diante da dor que este sentia. Do sofrimento que essa doença pode causar nas pessoas, tanto ao doente, como aos familiares diante do inevitável. Mas o que me chama a atenção é a situação precária dos leitos. E olha que não é qualquer cidade. É uma das cinco maiores do Estado. Leitos lotados e um calor insuportável dentro do ambiente que deveria ser de conforto, com apenas um ventilador que o paciente levou. Meu Deus! Quanto descaso com a vida, vida do outro. Isso é amar o próximo? Tornamos máquinas, robôs, indiferentes? Pessoas que não pediram para estar ali sofrem as mazelas da doença sem um mínimo de conforto. Onde está o dinheiro aplicado na saúde que não equipam os leitos dos hospitais com ar condicionado? Ar condicionado sim. Em nosso Estado esse aparelho nunca foi artigo de luxo, necessidade.
O caos nos hospitais brasileiros é “apenas a vitrine de um sistema falido e desumano”. A crise na saúde é uma doença crônica criada pela incompetência, falta de responsabilidade e consequentemente negligência para com a vida do outro.
Mas adiante vemos escolas caindo aos pedaços. Salas lotadas de alunos de todas as idades. Adolescentes pensam diferente de crianças. Professores abatidos por falta de condições de trabalho. Salas quentes com apenas um ventilador ou dois funcionando. Quem disse que ventilador alivia o calor dessa região tão quente? Agora há pouco vi no noticiário, grávidas de nosso Estado sendo tratadas de qualquer jeito. Deitadas no chão, sujeitas a todo e qualquer tipo de estresse. E os direitos fundamentais e universais garantidos tanto na Constituição Federal como na Declaração dos Direitos Humanos? Presencio todos os dias pessoas perdendo não só o seu dia, mas a vida buscando assistência médica e muitos desistem, impotência, tristeza.
Então, voltamos os nossos olhos para outra situação. A crise institucional instalada no país só reflete o caos que vivemos aqui. Num país emergente que abandona a mercê da sorte sua população que paga por tudo. Pelo luxo dos políticos, pela incompetência na gestão pública, por acreditar na justiça cheia de injustiça.
Diante disso, nosso conformismo vai crescendo diante dos nossos olhos. Pois não somos capazes de fazer nada em relação a isso. Em relação a essas tragédias sociais fomentadas por governos corruptos que por conveniência promovem o caos na finalidade de obter vantagens tanto econômicas como políticas.
Sinto-me ofendida todos os dias pela minha incapacidade de promover mudanças; ver direitos fundamentais e humanos de pessoas sendo violados diante dos nossos olhos, pessoas morrendo, crianças vítimas do descaso público, como presenciei recentemente, sem condições mínimas de sobrevivência. Sinto-me um João ninguém no meio de tantos Josés e Marias que sofrem por não ter apoio do nosso Estado diante de tais mazelas. Acredito que hoje vivemos tempos ruins, tempos em que mudanças de pensamentos e atitudes são necessárias. Tempo de levantar e reagir contra essa opressão social que nos é imposta todos os dias, a cada manhã. E assim, a esperança de tempos melhores.
Eliene Pereira Tavares é Assistente de Defensoria na DPE-TO em Porto Nacional e estudante de Direito no Centro Universitário Luterano de Palmas (Ceulp/Ulbra).