Com a proposta de instigar à conscientização acerca dos direitos, avanços e perspectivas que atravessam as vivências das mulheres negras, o evento “Ser mulher negra: permanências, construções e subversões necessárias para se bem viver” foi realizado nesta sexta-feira, 12, no auditório da Defensoria Pública do Estado do Tocantins (DPE-TO), em Palmas. Realizado pelo Núcleo Especializado de Questões Étnicas e Combate ao Racismo (Nucora) e pelo Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem), em parceria com a Escola Superior da Defensoria Pública (Esdep), o evento aconteceu de forma híbrida, com transmissão no canal da Defensoria Pública no Youtube.
A mediação foi feita pela defensora pública Denize Souza Leite, membra da Comissão de Igualdade Étnico-Racial da Associação Nacional de Defensoras e Defensores Públicos (Anadep), com participação de mulheres negras de áreas como o Direito, Psicologia, Pedagogia e Política. “A história do nosso país está pautada na exploração das mulheres negras, por isso, falamos que a mulher negra é alvo de uma tripla discriminação – gênero, raça e classe – pois estamos presentes nos piores índices sociais, pois somos o alvo principal da violência doméstica, violência obstétrica, intolerância religiosa e violência política”, alertou a Defensora Pública.
Deniz Leite destacou, ainda, a importância das mulheres negras para a constituição da cultura, costumes, línguas e artes, pautados sempre em valores coletivos. “A gente entende que nada se faz sozinho. Estar aqui hoje como mulher negra, defensora pública, é um ponto fora da curva, e reivindicamos espaço para que todas nós possamos contribuir e estar presente nos espaços de poder e lutar por uma efetiva democracia”, complementou.
A coordenadora em substituição do Nudem, a defensora pública Elydia Leda Barros Monteiro, ressaltou sobre a importância da ocupação dos espaços de poder que rompem estruturas machistas e racistas. “As estruturas de poder foram pensadas e conformadas para atender o homem, cis, branco, cristão e racional. Isso deixa a todas nós de fora desses standarts do Estado moderno, liberal e do Direito. Para romper com essas estruturas excludentes que não condizem com o Estado democrático e de Direito é preciso espaços de reflexão do feminismo a partir de recortes de raça e gênero como esses”, disse.
Presidenta da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Cida Ribeiro, falou sobre a forte presença de lideranças de mulheres nas comunidades quilombolas tanto no Tocantins como em todo o País. Porém, ela reforçou sobre a necessidade de se ocupar também outros espaços, de fora das comunidades, como ocupações públicas, empresariais e acadêmicas. “A gente ainda vê muitas pesquisas de pessoas brancas sobre as nossas comunidades, o nosso povo, o que também é muito importante. Porém, nós precisamos ocupar esses espaços para que nós possamos falar de nós”, declarou.
Programação
Com debates sobre os problemas estruturais criados pelo racismo e desigualdades sociais, a programação contou com palestras e rodas de conversa sobre temas como “Propositura do projeto de lei nº2.637/2” com a psicóloga Izabella Ferreira dos Santos, do Coletivo Ajunta Preta; “O cenário acadêmico posto para mulheres negras”, ministrado pela professora universitária Solange Nascimento, coordenadora de Ações Afirmativas da Universidade Federal do Tocantins; “O cenário político para mulheres negras” com a defensora popular e cientista social Ana Cleia Kika; “A condição das mulheres negras na advocacia” pela advogada criminalista e presidenta da Comissão de Igualdade Racial da OAB/TO, Priscila Ernesto Aragão; e “Mulheres negras e religiões de matriz africana” por Deyze dos Anjos, antropóloga e especialista em Promoção da Igualdade Racial na Escola.