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ARTIGO: Estratégias para despertar nas crianças assistidas o gosto pela leitura

Publicado em 03/08/2012 15:21
Autor(a): Autor não informado
Gledes Oliveira Costa - Analista em Gestão Especializado em Pedagogia - Foto: Autor não informado
Este artigo tem como objetivo abordar a importância da leitura na formação de crianças assistidas na sala da Brinquedoteca da Regional de Dianópolis-TO, uma vez que estas se encontram em idade escolar e precisam ser conscientes e críticos, podendo fazer do ato de ler uma condição essencial para viver a sua cidadania.

As políticas de leitura vêm sendo discutidas nos diversos segmentos da educação, destacando se a sua relevância para a aquisição do conhecimento, da cultura, do saber e da conscientização política, face aos desafios do mundo. Saber ler tornou-se, pois, condição indispensável para o acesso a qualquer área do conhecimento, uma vez que a leitura apresenta função utilitária e transformadora da sociedade. Porém, pesquisas indicam que a falta de leitura não se concentra apenas no Ensino Fundamental, mas prossegue no Ensino Médio e, por efeito dessa constatação, alcança o Ensino Superior. Sendo assim, nem sempre é correto acreditar que o aluno chega à universidade adotando práticas sistemáticas de leitura. Portanto, o brasileiro em geral não lê, sendo a leitura algo não presente em seu cotidiano.

Os estudantes, por sua vez, só leem como atividade escolar obrigatória, poucos os fazem por prazer. O problema atinge toda a sociedade e deve ser discutido por quem pode ajudar a resolvê-lo: os professores. O professor deverá ter em mente que o momento de leitura não poderá ser pretexto para se preencher fichas, completar o horário de aula, ou coisa parecida. A leitura deverá ocupar um espaço privilegiado dando uma ênfase especial à dimensão estética; gerando no aluno a fantasia e a curiosidade e, desta forma, desenvolver o hábito e o gosto pela leitura.

A leitura é importante para a vida e para a formação intelectual dos indivíduos na nossa sociedade, e é papel da escola criar condições e intervir para que os alunos se tornem bons leitores. Além disso, a leitura tem um papel relevante para que os alunos produzam bons textos, apesar de, em si, não garantir a formação de bons escritores.

Segundo Saviani, “é de fundamental importância a garantia de uma escola que possibilite a cultura letrada, o acesso à alfabetização e ao domínio da língua padrão a todas as crianças, pois somente assim ocorre a formação dos cidadãos, capazes de participar nos destinos da nação, interferir nas decisões e expressar seus pontos de vista” ( SAVIANI, 1986, p.82). Assim sendo, é de suma importância o trabalho do professor que deverá implementar formas de criar no aluno o hábito, o gosto pela leitura e a formação  de leitores eficazes, que de fato compreendam o que leem.

É imprescindível que criem diferentes oportunidades para levar aos seus alunos a leitura. Tarefa não muito fácil, mas estudos mostram que é possível explorar esse universo e torná-lo atrativo nas escolas com diferentes textos que usamos no dia a dia. Despertar esse prazer no aluno, o prazer de descobrir coisas, de crescer como ser humano e intelectualmente, deve ser o objetivo central de toda instituição de ensino e dos professores.

Neste sentido, o autor Smith (1999) fala que a concepção para estimular a leitura consiste em: “somente por meio dela que as crianças aprendam a ler, e que o professor deve, portanto, garantir que a leitura seja acessível e agradável a todas as crianças (...) mostro que elas podem aprender a ler somente pelo uso de materiais e atividades que elas entendam e que despertam seu interesse, que possam relacionar com atividades que já conhecem. Os únicos livros que devem ser lidos para as crianças ou que elas devem ler são aquelas que realmente despertam interesse, que contêm rimas e histórias fascinantes, e não as prosas desinteressantes e artificiais a que muitas crianças são obrigadas a prestar a atenção como, por exemplo, ler sobre um dia entediante na vida de duas crianças fictícias ou então ler frases tipo vovó a uva” (SMITH, 1999:134).

Portanto, uma das formas de apropriação do conhecimento e interação do aluno com seus semelhantes é através da leitura, e isso ocorrerá de forma eficiente se as atividades de leitura levarem em conta a formação do leitor. Isso implica em não apenas considerar diferentes leituras de mundo, experiência de vida, mas também o diálogo dos estudantes com o texto e não sobre o texto, dirigido pelo professor. No entanto, a formação de leitores contará com atividades que contemplem as linhas que tecem a leitura, que são as seguintes:

- Memória: o ato de ler, quando pede a atitude responsiva do leitor, suscita suas memórias, guarda seus sonhos, suas opiniões, sua visão de mundo. O ato de ler convoca o leitor ao ato de pensar;

- Intersubjetividade: o ato de leitura é interação não apenas do leitor com o texto, mas com as vozes presentes nos textos, marcas do uso que os falantes fazem da língua, discursos que atravessam os textos leitores;

- Interpretação: a leitura não acontece no vazio. O encontro de subjetividade e memórias resulta na interpretação. As perguntas de interpretação de textos, que tradicionalmente dirigimos aos alunos, buscam desvendar um possível mistério do texto e esquecem o mistério do leitor;

- Fruição: o ato de ler não se esgota ao final da leitura e das sensações. A leitura permanece. E nisso, o prazer que ela proporciona difere o prazer que se esgota rapidamente;

- Intertextualidade: o ato de ler envolve resposta a muitos textos, em diferentes linguagens, que antes do ato de leitura permeiam o mundo e criam uma rede de referencias e recriações: palavras, sons, cores, imagens, versos, ritmos, títulos, gestos, vozes, etc. No ato de ler, a memória recupera intertextualidades (YUNES 1995, p. 194).

Além disso, o trabalho com a leitura implica reconhecer a incompletude dos processos discursivos, os vazios que eles apresentam – implícitos, pressupostos, subentendidos – que devem ser preenchidos pelo leitor. Portanto, o que acontece em sala de aula referente à leitura é de extrema importância, pois essas experiências são determinantes para que os alunos tornam-se leitores ou não; considerando que ser leitor não é apenas decodificar códigos, mas ler, entender e opinar sobre o que foi lido.

Algumas crianças começam a aprender desde cedo, quando estão em casa, os rudimentos da leitura e da escrita. Outras, apesar de viverem no mundo das letras, passarão a usá-las na leitura e escrita apenas quando iniciarem a educação formal. Essa relação que a criança tem com a leitura e a escrita, desde a mais tenra idade, influencia no uso que a mesma faz dessas habilidades em idade escolar.

Que uma família de leitores é importante para a formação de uma criança leitora não há dúvida, mas não é o único nem o principal meio. Que muitas escolas busquem não apenas alfabetizar, mas letrar o aluno, é evidente, mas não suficiente. O professor que se distancia das leituras de fruição em suas aulas pode estar repetindo a dinâmica que seus professores desenvolviam na sala de aula; onde o prazer de ouvir não tinha voz nem vez. Dizer que os alunos “não gostam de ler” e, conseguintemente, “não gostam de escrever”, pode estar sendo usado por muitos, cada um, em seu nível hierárquico dentro do dever de educar, como uma desculpa que os desobrigam da tarefa de ler.

Percebe-se que as questões mais intrigantes que se desenvolveu nesse artigo, como apresentação de formas atraentes de leitura e por meio destas formar alunos críticos, é, na verdade, uma questão de projeto político sustentável e socializado nas instituições de ensino, onde o objetivo deve ser trabalhado por todos. Quando há essa práxis, há simultaneamente a transformação humana, social e política. Isso não é mágica, nem tão pouco utopia; é tão somente consciência e trabalho em prol da vida de qualidade.

 

 

 

 

 
 

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