edit Editar esse Conteúdo

As relações entre pais e filhos na contemporaneidade

Publicado em 30/05/2016 15:21
Autor(a): Isabel Cristina Izzo
As relações entre pais e filhos na contemporaneidade - Foto: Divulgação

Após tentar, sem sucesso, impedir que a filha pequena subisse a rampa que dá acesso ao piso superior de uma dada instituição, a mãe, aguardando atendimento no térreo, diz à filha que não fosse lá para cima, porque lá estaria repleto de bichos e monstros. “Estou avisando, não suba, lá em cima ta cheio de bichos e monstros que vão pegar você!” repetiu a mãe várias vezes.  O comportamento de ambas, mãe e filha, chamam a atenção. A mãe, sem autoridade e determinação, preferiu amedrontar a criança. A criança, por não apresentar limites estabelecidos pela mãe, fez manha, gritou, desafiou, caminhou até certa altura da rampa e retrocedeu, algumas vezes. A situação persistiu até que a própria criança decidiu ir para perto da mãe. Muitos de nós, provavelmente já presenciamos uma situação como esta.

Segundo a psicanálise, existem algumas fases no desenvolvimento infantil; a forma como cada fase se dá e como elas se sucedem, constitui fator determinante para a saúde mental.  Um dos pontos importantes que merece atenção no desenvolvimento infantil, e que deve ocorrer durante algumas dessas fases, é o estabelecimento de limites. Na relação entre pais e filhos é fundamental haver estabelecimento de limites, ou seja, no caso em questão, a mãe deveria ter dito à criança que não subisse a rampa naquele momento, e pronto. A criança, mesmo contrariada, não subiria ou seria trazida de volta, pela mãe.  Além da questão da ausência de limites aqui observada, outra questão preocupante se deu pela utilização da mentira, da qual a mãe lança mão, para tentar conter a filha.

Como se sentiu a criança, quando mais tarde, a mãe sendo chamada para o atendimento, e em companhia da mesma, sobe a rampa, chega ao piso superior, onde se daria o atendimento e vê que lá não havia bicho ou monstro algum?

Essas confusões e ausência de regras, pelas quais pode passar uma criança, período em que se dá a formação de identidade durante seu desenvolvimento, poderão levá-la a desenvolver alguns problemas, como por exemplo, insegurança, medos desnecessários e excessivos, dificuldade para estabelecer relações de confiança, além de ser a ela concedido, o direito a utilizar-se de mentiras, frente as mais variadas situações, assim como fez a mãe.

Na sociedade contemporânea, observamos que os pais já não sabem qual a melhor maneira de se relacionar com os filhos, principalmente quanto ao estabelecimento de limites e com isto, de certa forma, “optam” por serem “amigos” dos mesmos.  Nessa nova forma de relacionamento, os papéis de cada um, acabam se perdendo ou se tornando confusos.  

Contudo, é importante salientar, que o estabelecimento de limites desde a infância é primordial para se evitar que alguns transtornos ligados ao caráter e à personalidade, possam se desenvolver no futuro.

As relações entre pais e filhos são distintas das relações entre amigos. As relações entre pais e filhos, necessitam ter função protetora, orientadora, disciplinadora, educadora.  O “não” quando dito, pelos pais aos filhos, deve ter o objetivo de disciplinar, dar limite, formar caráter, o que se espera dos pais, é que sejam os responsáveis, os exemplos, as referências, os “espelhos” e ao contrário do que muitas vezes se pensa, esse “não” dispensa explicações, rodeios e embasamentos.  É o desejo dos pais que deve ser sobreposto ao desejo do filho.

Portanto, é importante definir os papéis de cada um, compreendendo-se que cabe aos pais, o papel de serem efetivamente pais, onde as ações e práticas educativas devam ser de fato e inteiramente exercidas por eles.

Isabel Cristina Izzo é Analista em Gestão Especializada-Psicologia da DPE-TO Regional Gurupi

keyboard_arrow_up