Ser mulher é...

*Por Ana Claudia Figueiredo

Minha essência

Desde menina ouvia de minha mãe que uma mulher deveria sempre ser dona do seu “nariz”, que não devia ser “prendada”, deveria ser independente, estudar e trabalhar, que o casamento era consigo mesma. Minha mãe foi uma mulher a frente de seu tempo, feminista sim, sem sequer ter ouvido essa expressão, daí ficou fácil ser quem sou.

Ela espelhou meus passos, se foi muito jovem e deixou em mim, essa personalidade forte que carrego comigo. Sempre estive disposta a enfrentar desafios “por elas” e continuo fazendo isso, sempre serei “por elas”. Criei dois filhos sozinha com o sentimento de que mulheres devem ser repeitadas e tratadas com isonomia, que devem ser o que quiserem e, como quiserem, donas absolutas de suas vontades e seus desejos. Ser mulher não é uma tarefa fácil, principalmente nos dias atuais e ser mulher Negra ainda é mais difícil, pela carga de preconceito e de racismo que se arrasta por décadas, mesmo que veladamente, no meu caso explicitamente, pois apanhei quando criança pelo simples motivo de carregar na pele a cor negra. Aí você me pergunta, isso não te deixou com ódio? Eu repondo: Não! Isso me deu combustível pra ter coragem e não me calar e, jamais abaixar minha cabeça ou me sentir diminuída. Sou sim, Mulher, negra, feminista, mãe, defensora de outras mulheres e principalmente dona de mim.

Deus me deu a graça de ter nascido mulher, com coragem e com senso de justiça aflorado, e se esse senso for atacado me levantarei contra os ofensores, às vezes até pode parecer dureza, mas na verdade é a minha essência que se manifesta automaticamente antes mesmo que eu possa parar para pensar. Ser mulher é ter o poder da vida, é esperar o inesperável , é não ser obrigada a NADA! Ser Mulher é ser sinônimo de amor e coragem, é trazer a esperança sempre.

*Analista da 2ª Defensoria Pública da Mulher – Violência Doméstica