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Um olhar psicológico sobre os efeitos do uso da internet na organização mental e nas rela

Publicado em 27/09/2013 09:48
Autor(a): Autor não informado
Isabel Cristina Izzo - Foto: Rose Dayanne

Um olhar psicológico sobre os efeitos do uso da internet na organização mental e nas relações afetivas

             A internet (rede mundial de computadores) e as relações que se estabelecem com a mesma, tem sido alvo de muitos questionamentos quanto ao bem e ao mal que podem provocar a seu usuário.

             O que a internet pode nos oferecer diante de nossas necessidades? Pode-se dizer que ela nos dá muito do que procuramos a nível informativo, educativo, de entretenimento, de relacionamento social, de trabalho e por que não dizer até sexual, pois  sabe-se que muitas pessoas com dificuldades de relacionamento neste contexto, ao invés de buscarem ajuda para solucionar seus problemas de ordem emocional e/ou comportamental, preferem saciar seus desejos sexuais apenas em suas relações virtuais. Mesmo apresentando diferentes resultados, com prós e contras,  sabe-se que cada vez mais a internet tem feito parte da vida das pessoas e está presente em  quase todos os lugares; vem substituindo a presença física pela virtual de modo significativo,  e tem invadido nossa vida. Ficamos fascinados com tudo isso, com a praticidade, agilidade e conforto que o uso dessa ferramenta nos traz. A facilidade e rapidez com que a internet realiza as trocas e as comunicações de modo geral é o que mais parece nos fascinar; todos os movimentos acontecendo em tempo real, de um hemisfério a outro, contribuem para um processo de evolução incomparável.

            Isso tudo parece realmente incrível, e certamente estas constatações não constituem novidade alguma para a maioria de nós que vivemos conectados à rede. Certamente  sua evolução não parará por aí  e provavelmente muito mais ações ainda serão substituídas pelo simples acesso à internet. E talvez chegue o tempo em que não precisaremos mesmo mais sair de casa para satisfazermos “quase” todas as nossas necessidades, pois paulatinamente estamos evitando as atribulações causadas pelas nossas saídas à rua, como o trânsito nas grandes cidades, esperas em filas, violência, etc.

           A internet teve seu início nos Estados Unidos, por volta do final dos anos 60, inicio de 1970, e tinha  a princípio objetivos militares. Posteriormente foi utilizada para fins acadêmicos, teve expansão significativa nos anos 90, quando foi se tornando mais acessível e a partir do início do presente século alcançou seu apogeu.  De acordo com dados publicados  na “Revista História Viva”, segundo dados de Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada em 2009 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 67,9 milhões de brasileiros estavam conectados à internet ou seja, o número de domicílios com acesso à internet no Brasil cresceu 71% entre 2005 e 2009. Atualmente, sabe-se que mais de um terço da população mundial está conectada à internet, cerca de mais de 2 bilhões de pessoas.

           Mas o que fez a internet evoluir tanto? Claro que como já falamos, praticidade, conforto, rapidez, eficácia. Mas, e o que mais?

           Partindo do princípio de que o homem não foi feito para viver sozinho, embora sendo singular,  parece que sua relação com o computador, lhe dá a “sensação de não se sentir só” e ainda lhe possibilita escolher como, onde e quando deseja interagir através da rede, já que esta lhe possibilita explorar um ou vários conteúdos ou realizar uma ou várias conversas, ao mesmo tempo, podendo interrompê-los, desconectando-se desses conteúdos e conversas quando não mais forem considerados desejáveis ou retomá-los quando julgar necessário. Tudo muito simples, cômodo e prático, portanto.

           Para os que nasceram na época atual, já encontraram o mundo informatizado, e a estas pessoas, tais reflexões podem parecer desnecessárias, já que esta realidade virtual foi incorporada às suas vidas desde a infância, mas para os mais velhos, esta é uma novidade que ainda pode causar certo estranhamento. E as preocupações mais específicas residem no fato de as relações físicas estarem sendo trocadas pelas virtuais, onde por exemplo, a maioria das crianças da atualidade parece não realizar mais brincadeiras como  pega-pega, pique e esconde, escaladas em árvores e muros, etc,  comuns a tempos atrás; trocando estas brincadeiras, normalmente grupais, que ajudavam na promoção  do desenvolvimento físico, mental e social, por jogos virtuais, individuais, onde parece haver certa restrição da capacidade de imaginação, de criatividade, motora,  social e da liberdade de “se crescer e se desenvolver em grupo e mais livremente”.

           Parece que a violência e a correria do dia a dia incrementaram a valorização e o uso da internet, pois estando em casa, frente a um computador, evita-se correr riscos na rua e também, no caso da criança,  não se faz necessária a presença de um cuidador para a mesma durante as 24 horas do dia; é como se o computador fosse sua companhia, o que constitui enorme engano.     Deixar uma criança sozinha em contato com um computador durante muito tempo, constitui-se no mínimo um processo de desumanização, é como delegar à máquina as obrigações de um cuidador, sendo obviamente inadequado e impertinente ao processo interativo social de um ser humano.

          Muitos apontam o uso da internet como um dos responsáveis pelo afastamento e esfriamento das relações interpessoais, mas é preciso considerar que o caminho inverso também pode acontecer. Há muitas histórias de  pessoas que se aproximaram fisicamente após contato virtual inicial. Redes sociais como o facebook também têm incontestável poder de comunicação e  formação de opinião, fato comprobatório disso foram os movimentos sociais que ocorreram nos meses de junho e julho de 2013, onde a população brasileira se mobilizou a nível nacional para reivindicar justiça social e mudanças políticas aos governantes, sendo a internet apontada como o maior meio de comunicação utilizado para a elaboração e realização  daquela manifestação.

          Então, que avaliação se pode fazer sobre o bem e o mal causados pelo acesso e utilização da internet?

          Talvez a resposta a esta pergunta seja a mesma resposta que se dá ao se responder sobre o bem e o mal de se comer, beber, dormir, trabalhar ou fazer  sexo, ou seja, a forma, a quantidade  e a  relação que temos com a comida, a bebida, o sono, o trabalho, o sexo, etc é que poderão definir sobre seus malefícios e benefícios em nosso organismo. Segundo Abraham Maslow , psicólogo americano,  criador da hierarquia de necessidades, conhecida como a “Pirâmide de Maslow”, “as necessidades fisiológicas devem ser saciadas para que  posteriormente sejam saciadas as necessidades de segurança, e na ordem as sociais, de autoestima e a auto-realização, etapa final da felicidade do ser humano”.

           Os seres humanos têm necessidades que precisam ser satisfeitas de acordo com sua prioridade, as mais eminentes ao serem satisfeitas vão dando lugar a outras e assim sucessivamente. Precisamos de equilíbrio a fim de que todas as nossas necessidades possam ser satisfeitas, não apenas uma ou outra,  e o equilíbrio faz-se necessário para a realização de todas as nossas buscas e ações que nos levem a satisfação de tais necessidades, num processo contínuo. Portanto, voltando a falar sobre a internet, desde que saibamos administrar nosso acesso à ela, não comprometendo as demais atividades que realizamos no dia a dia, não estaremos comprometendo nosso equilíbrio. Precisamos aprender a avaliar o tempo que disponibilizamos para estarmos conectados, e avaliarmos os conteúdos acessados.

          No caso das crianças, precisam de  limites para o acesso à internet, o que vale também para o uso de celulares. Ao que concerne aos ambientes escolares, seus responsáveis  poderiam avaliar a possibilidade de proibir que a criança adentre ao mesmo de posse de aparelhos celulares e afins, mas para isso é importante que os pais colaborem e promovam  segurança emocional aos filhos, pois muitos pais criam a necessidade de contato com o filho o tempo todo; atividades que por ventura forem ligadas ao uso da internet, como pesquisas por exemplo, poderiam respeitar e restringir o seu uso apenas aos dias das mesmas, que devem ser pré agendadas; também é importante que as escolas ofereçam atividades físicas e  lúdicas nos intervalos das aulas, que possibilitem a interação e os jogos grupais. Ao chegar em casa, a criança deverá ter horários estabelecidos para o acesso à internet e ao uso de celulares, priorizando sua alimentação,  descanso,  realização das tarefas escolares,  interação com os familiares e com os amigos. Sem os cuidados e atenção dispensados à criança, esta poderá fazer uso indevido tanto da internet, quanto de celulares, podendo comprometer seu desenvolvimento emocional, físico, mental, cognitivo e social.

             Portanto, depende do olhar dos pais ou cuidadores, verificar, avaliar, limitar e compreender os caminhos percorridos pelas crianças em seus acessos pelo mundo virtual, o que se constitui demonstração de afetividade e de estipulação de limites, importantíssimos no processo de estabelecimento de equilíbrio emocional presente e futuro de seus filhos. Tanto crianças quanto adultos, que não conseguem dominar o uso da internet e/ou de celulares, e já “não desgrudam deles”, comprometendo suas atividades de vida diária, podem estar vivendo uma relação psicopatológica de dependência com estas máquinas e o autocontrole já pode estar comprometido. Buscar ajuda psicológica nestes casos poderá ser de grande importância. Não podemos nos esquecer que a presença e o contato físicos ainda são indubitavelmente as melhores formas de interação entre as pessoas, tanto no que se refere à crianças quanto a adultos. O uso da internet deve ter o objetivo de ampliar conhecimentos, transformar o ser humano e melhorá-lo em  suas relações, e em hipótese alguma deverá anular ou substituir suas relações com outros seres humanos.

 

 

Isabel Cristina Izzo - CRP 09/6577

Psicóloga da Defensoria Pública - Regional Gurupi

 

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