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Como lidar com os desejos e os limites na relação entre pais e filhos nos tempos atuais

Publicado em 08/07/2013 17:39
Autor(a): Autor não informado

 

Numa sociedade pós - moderna e hedonista, onde a busca pelo prazer se tornou o maior desejo do ser humano, parece difícil lidar e estabelecer limites às crianças e esta questão vem sendo uma das maiores queixas apresentadas por pais ou cuidadores nas relações com seus filhos. Portanto, parece que dar limites aos filhos, na sociedade na qual vivemos, não é tarefa fácil, pois na correria do dia a dia e na busca cada vez maior por valores financeiros que elevem cada vez mais o padrão de vida, tendo como objetivo o consumismo desenfreado, os pais estão cada vez mais “ocupados”, o que faz com que o tempo fique cada vez mais escasso para cuidar dos filhos e desenvolver de forma satisfatória a afetividade com relação aos mesmos. Considerando que esta tarefa demanda tempo e tempo com qualidade, a relação entre pais e filhos acaba ficando cada vez mais prejudicada. 

O que se verifica é que os pais estão trocando as relações afetivas, que são as mais importantes para a busca de equilíbrio psicoemocional e o desenvolvimento geral do indivíduo,  pelas relações de poder de compra, ou seja, dão aos filhos objetos como roupas, tênis, celulares, computadores de última geração, etc na tentativa de compensar a sua ausência. Mas o que isto vem causando aos filhos na verdade é o desafeto, desequilíbrio emocional e intolerância ao desejo não realizado.  O que significa dar limite a uma criança? Significa que os pais ou cuidadores precisam aprender a dizer “não” e impor seu desejo a ela. Mas dizer “não” gera raiva e conflitos, certo?  Mas, o que vem a ser raiva? Raiva neste caso é o sentimento que temos quando nos vemos diante de uma perda, ou seja, quando por exemplo os pais ou cuidadores dizem à criança que pare com uma brincadeira e vá para o banho, isso gera na criança a raiva pelo medo da perda da brincadeira, ou seja, pela sua interrupção, o que parece normal, pois não queremos deixar de fazer aquilo que nos dá prazer. O que ocorre é que quando os pais cedem frente ao choro e a birra da criança e não priorizam o seu desejo e sim o desejo da criança, podem estar de alguma forma  contribuindo para a não elaboração do que chamamos “tolerância à frustração” que esta criança precisa aprender a ter. Ou seja, nem tudo na vida é prazeroso e muitas vezes temos que fazer também o que não nos dá nenhum ou pouco prazer, mas é necessário que seja feito. Segundo a literatura científica, nosso córtex frontal, situado no polo anterior de nosso cérebro, além de outras funções é responsável pela “tomada de decisões”, inicia seu desenvolvimento na infância e se estende até os 21 anos, o que vale dizer que só atingimos, segundo a literatura, a capacidade plena de tomada de decisões por volta dos 21 anos.

O que se pretende aqui é tentar mostrar aos pais ou cuidadores que quando dizem “não” e impõem limites aos filhos, isto pode num primeiro momento gerar a raiva nos mesmos, mas essa raiva precisa ser  compreendida como formadora da compreensão do que se pode e do que não se pode fazer naquele momento, promovendo na criança o discernimento e a segurança para a tomada de decisões, decisões que a todo momento precisam ser tomadas por nós durante toda nossa vida. Do ponto de vista psicológico, compreende-se que isto dará condições à criança de sentir o quanto os pais se importam com ela, gastam seu tempo com ela, ensinam a ela o que acreditam ser o correto naquele momento e este empenho que os pais têm para cuidar, conversar e orientar  a  criança é compreendida por ela como demonstração de afetividade. Em outras palavras, quando se deixa uma criança “fazer só o que ela quer”, está subentendido pela própria criança que os pais não têm tempo para gastar com ela. Ser cuidada, protegida, ensinada e corrigida pelos pais ou cuidadores constitui também direitos da criança, assim como ser alimentada, educada, vestida, etc, e isto é demonstração de afeto.  Não considerar que o dizer “não”  caminha  de mãos dadas com o dizer “eu te amo”, é o mesmo que considerar que as crianças logo ao nascer já têm nível intelectual e cognitivo desenvolvidos para discernir entre o bem e o mal, é  negligenciar cuidados que as crianças só podem obter de seus pais ou cuidadores, é negar-se ao amor, o maior dentre todos os sentimentos.

 

Isabel Cristina Izzo

Psicóloga da Defensoria Pública - Regional de Gurupi

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