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A realidade da perda e a necessidade do luto

Publicado em 05/07/2018 17:16
Autor(a): Autor não informado
Isabel Cristina Izzo é analista em Gestão Especializada na Diretoria Regional da DPE-TO em Gurupi - Foto: Arquivo pessoal


Por Isabel Cristina Izzo*


Em seu livro “A vida humana: perdas e consequências”, o psicanalista Ivan Capelatto explica que mortes, separações não consentidas, mudanças e bullying são situações que geram perdas e que podem ocorrer na vida de qualquer pessoa, independente de idade, sexo, origem ou cultura. Quando algo é retirado de nossa vida, sem que haja o nosso desejo de que isso aconteça, sofremos a dor pela perda que precisa ser vivida, sofrida e elaborada por meio de uma dinâmica que denominamos “luto”.

Permitir que o sujeito da perda possa sentir raiva pela perda, pelo modo como a perda se deu, medo de que outras perdas aconteçam e até culpa, é possibilitar que o sujeito elabore o luto. O impedimento ou a negação de enlutar-se pode culminar em aquisição e produção de emoções doentias, como depressões, distimias, e doenças autoimunes.

Nos Núcleos de Mediação de Conflitos que envolvem questões familiares e nas separações litigiosas observam-se muitos casos de ruptura de relações amorosas, com todas as transformações inerentes a esse momento.  As separações aparecem como uma ferida ao narcisismo, forma de se defender de um estado em que as tensões são maiores do que é possível para o domínio do aparelho psíquico. Na expectativa de evitar o desamparo, há uma provocação intensa das emoções e tentativa de manter rígido controle sobre o outro, numa tentativa para recuperar o equilíbrio emocional e existencial, provocando deterioração dos sujeitos.  Há evidente resistência em vivenciar e elaborar o luto pela perda e rejeição do outro.

Para Igor Caruso, estudar a separação amorosa consiste em analisar a presença da morte na vida, como se houvesse um luto por um amor vivo. O amor, definido por Platão, seria como completude e falta. Para Jacques-Alain Miller, ao amar, a pessoa acredita que alcançará uma verdade sobre si, enquanto Sigmund Freud afirma que precisamos amar para não adoecer.

Para Sigmund Freud, a paixão encerra uma ilusão de completude, sua possível perda poderia conduzir a passagens ao ato de diferentes graus de destrutividade. Utiliza a expressão “paixão amorosa” para uma emoção que denomina o sujeito sem controle da razão, podendo chegar ao excesso de uma transgressão ou de uma perversão.

Perdas e separações são partes da condição humana, inevitáveis, vivenciadas desde a nossa infância. E as elaborações de “todas” as perdas são necessárias, é o que nos dará suporte emocional para as etapas seguintes e para as possíveis perdas futuras.

Para Capelatto, acontecimentos e perdas que ocorrem desde a infância e por toda a vida, como o fim das férias, o fim das aulas, a mudança de escola, de turma, de casa, a morte de alguém ou do bichinho de estimação, o “boa noite” após a festinha de aniversário, o fim de uma amizade ou relacionamento, a demissão, tudo o que é ruptura, encerramento de ciclo, consiste em uma perda e necessita ser respeitada, sentida e elaborada.

“Quem consegue desenvolver a capacidade de ter uma percepção plena e natural de cada término ou ruptura, do fim e da perspectiva dele, e pode encaixá-lo no conjunto de sentimentos, ideias, planos e expectativas que se rearranjam num novo cenário em função de uma nova situação que se cria a partir daí, aprenderá a evitar que os espaços vagos virem buracos negros devoradores”.


*Isabel Cristina Izzo
Analista em Gestão Especializada
DPE - TO / Diretoria Regional de Gurupi



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