edit Editar esse Conteúdo

Para quem acha que falar sobre o suicídio é incitá-lo, falemos sobre a sociedade contemporânea

Publicado em 03/06/2019 09:28
Autor(a): *Isabel Cristina Izzo
Para quem acha que falar sobre o suicídio é incitá-lo, falemos sobre a sociedade contemporânea - Foto: Autor não informado



Na cultura atual, temos que parecer estar bem, sempre, quando a comida que comemos, as viagens que fazemos, os relacionamentos felizes que temos, os carros, as roupas, as festas, enfim, os prazeres da vida, são postados nas redes sociais;  ou quando tentamos fazer com que esses prazeres da vida durem para sempre. Para que os dias e as noites possam ser suportados, salvamos a sexta feira, que promete a cada semana, “prazeres intermináveis” que virão junto com o final de semana.

Criamos um mundo “perfeito” e de aparências, onde se perde o senso crítico, e a afetividade perde cada vez mais para os valores, opiniões alheias e para o tempo gasto na internet. Ser feliz é tudo o que se quer, mas para quê ser feliz, se ninguém souber? E com as partes ruins que acontecem na vida, o que fazemos?

Estamos cada vez mais voltados para o “ter” prazer do que para o “ser” feliz. Será que as pessoas se juntam hoje em dia, porque se amam, ou se juntam para tirarem o prazer que podem tirar um do outro? Quando o outro não nos dá mais prazer, o descartamos.

Amparar o outro na sua dor, assusta, fazendo com que a empatia e o sentimento de responsabilidade pelo outro, se dilua, assim como a tolerância às frustrações. Frustrações são parte da vida, e na infância, amparado por um adulto, a criança aprende a suportar a dor, fazendo com que possa enlutar-se pelas perdas e criar outras maneiras para continuar vivendo. Quando se oferece à criança a possibilidade de trocar a dor por algo “melhor”, como presentes, ou criando um atalho para outras fontes de prazer, cria-se um problema maior para ela, pois se evita que ela enfrente o sofrimento, se instalando  o que, em psicologia chamamos, intolerância às frustrações. Com o tempo, ouvir um “não” se torna, insuportável.

Desde que nascemos, precisamos nos sentir como pertencentes ao meio, sentir que fazemos parte de uma família; e pertencer a uma mãe, uma avó, a um pai, alguém que nos diga o que devemos fazer, que nos diga que é o responsável por nós, e que sabe se podemos ou não fazer algo, constitui  uma das coisas mais importantes, pois permite que o ser humano se sinta cuidado, protegido e amado. Portanto, dizer “não” a uma criança e ajudá-la a passar pela frustração, é fundamental.

Infelizmente, muitos filhos não recebem esse cuidado dos pais. Hoje em dia, a maioria está livre para fazer o que achar melhor, porque muitos pais não estão mais atentos ao que os filhos sentem, e talvez estejam mais voltados para o que os filhos conseguem fazer no tempo livre, em que poderiam estar com eles.

Compreendermos como terminantemente proibida a supressão, substituição ou barganhada afetividade e do limite por qualquer outro sentimento/posicionamento dos pais para com os seus filhos, talvez nos possibilite no futuro, não precisarmos falar tanto em desamparo, depressão e suicídio.


*Isabel Cristina Izzo

Psicóloga - CRP 966/23

Defensoria Pública-Regional Gurupi


keyboard_arrow_up