E a vida
E a vida o que é?
Diga lá, meu irmão
Ela é a batida de um coração
Ela é uma doce ilusão
Hê! Hô!
E a vida
Ela é maravilha ou é sofrimento?
Ela é alegria ou lamento?
O que é? O que é?
Meu irmão
Há quem fale
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo...
Nesta canção, o poeta Gonzaguinha questiona o que é a vida, qual o sentido de estarmos vivos, por que vivemos. Podemos então aproveitar a canção para refletirmos um pouco sobre o que a vida representa para cada um de nós e o que tem levado um grande número de pessoas a desistir dela.
Temos observado que tem crescido o número de pessoas, principalmente crianças e adolescentes que não têm encontrado motivos, sequer um, para continuarem vivos, e por mais que nos debrucemos para tentar evitar que cresça o número de descontentes com a vida, infelizmente não é o que tem ocorrido pelo mundo afora. Nós, os profissionais da área da Psicologia, dentre outros tantos profissionais que se preocupam com o equilíbrio físico e mental, procuramos observar atentamente esta realidade, não só dos que expressam a dor por meio da fala, mas também dos que a expressam silenciosamente.
Para Roberto Lent, professor de Neurociências (UFRJ), “o choro é explícito, fácil de interpretar, difícil é identificar a sutileza dos sentimentos delicados e menos extremos, como o riso aberto do prazer e o choro desabrido da angústia e da tristeza”.
Não seria justo sermos responsabilizados pela dor do outro, mas podemos estar atentos a ela. Um pedido de socorro pode vir de um olhar ou de um gesto, que muitas vezes nos passam despercebidos. Doar parte do nosso tempo para enxergar o outro e ouvir sua dor, representa muito. Muitas vezes ouvir em silêncio e sem interpretar, é a mais importante, a melhor forma de valorizar a dor e ajudar o outro.
A equação afetiva na contemporaneidade, na maioria das vezes, tem obtido sempre um resultado negativo, culminando no sentimento da “não pertença”, que significa procurar desesperadamente pertencer a algum grupo para não sentir-se só, e que culmina no abandono, no desamparo e na solidão.
O toque, a conversa nas ruas, as visitas à vizinhança, os olhares, o cara a cara, os colos dos nossos pais, os beijos, os abraços, o calor humano, tudo o que nos protege, nos ajuda a enfrentar a dor e nos conforta dos assombros da vida, paulatinamente foram sendo substituídos pela internet, infinitamente mais hábil e disponível, que inventa todos os dias as mais variadas formas para estar conosco. Surpreendente e ironicamente, em alguns momentos, parece até que estamos frente a frente com um humano, de tão boa que parece ser nossa relação com a internet.
Sem dúvida não dá mais para vivermos sem internet, reconheço. E também a ela não podemos atribuir toda a culpa pelo nosso fracasso na formação e fortalecimento dos laços afetivos. Mas precisamos voltar a sentir quão importante é o outro ser humano na nossa formação e na manutenção dos vínculos.
Nada será capaz de suprir o afeto, o cuidado, o toque e o amparo que somente são disponibilizados nos corações e nas ações entre os seres humanos.
Há quem fale
Que é um divino
Mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor...