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Como sobreviver ao desamparo

Publicado em 30/03/2017 11:48
Autor(a): Isabel Cristina Izzo
Como sobreviver ao desamparo - Foto: Divulgação

Ao escrever “O Mal Estar na Civilização” em 1930, Sigmund Freud já se preocupava com o rumo que tomaria a humanidade. Sua pergunta ao longo do livro é acerca dos caminhos por onde andará a humanidade, a civilização, a que ele denomina também cultura. “Para onde vai essa cultura da qual o homem está orgulhoso?”, indaga Freud.

Em 1931, questiona: Mas quem pode prever o desenlace? Se de um lado está o desenvolvimento cultural e de outro está a pulsão de agressão e autoaniquilamento.

Quase noventa anos depois, nossa realidade nos remete à preocupação de Freud. Observa-se que atuações políticas e religiosas, nas quais é buscado o amparo, que serviriam para agrupar e nortear a humanidade, não conseguem cumprir com seu papel de unificar, pacificar, tampouco humanizar.

Considerando que quando somos crianças, necessitamos do amparo de nossos pais, quando crescemos buscamos outras fontes para obtê-lo e incessantemente fazemos isso durante toda nossa existência. Por isso precisamos buscar sempre alguém em quem possamos confiar, a civilização ou a cultura é portanto “ a soma de operações e normas que distanciam nossa vida de nossos antepassados animais e que servem a dois fins: a proteção do ser humano frente à natureza e a regulação dos vínculos recíprocos entre os homens”.  A troca do poder do indivíduo pelo poder da comunidade é o passo cultural decisivo.

Crise Européia; fome em muitas partes do mundo; guerras no Oriente Médio; ataques terroristas; autoritarismo nos Estados Unidos; escândalos políticos e alastramento da corrupção no Brasil nos dão a dimensão de nosso desamparo?  Intolerância e desavenças entre colegas de trabalho, amigos e familiares porque os pensamentos e desejos não se alinham, nos dão a dimensão desse desamparo?

Na preocupação de Freud com os destinos da humanidade, pouco tempo antes de sua morte, escreveu: “Estamos caminhando para tempos difíceis”; “Não posso deixar de ter pena de meus sete netos”.

A perda de amor do outro de quem se depende e como é gerado o sentimento de desproteção, é o amargo desamparo, assim a arte de viver vai se tornando cada vez mais difícil.

Edgar Morin, em seu livro “Meus Demônios”, coloca que “o ódio arrebenta por nada e como o egoísmo, o desprezo, a indiferença, a desatenção sucede em toda parte”; “ a crueldade do mundo e o melhor da bondade do mundo estão no homem”.        

                                                              

Isabel Cristina Izzo

Analista em Gestão Especializada-Psicologia

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